Gratidão

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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que fizeram com o Evangelho?

Apenas citar o nome de Cristo não transforma heresia em Evangelho, narcisistas em servos, interesseiros em evangélicos. Na verdade, o nome de Cristo tem sido usado apenas como pretexto para promoção da própria glória e para o enriquecimento.

Juliano Costa de Souza

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“João Calvino 500 anos: introdução ao seu pensamento e obra”

COSTA, Herminsten Maia Pereira da; João Calvino 500 anos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, 400p.

A obra, “João Calvino 500 anos”, apresenta um conteúdo claro não apenas pelo modo da escrita como também pela forma sistemática dos assuntos tratados que ao ser desenvolvido, permeou com bastante profundidade as realidades que envolveram a Reforma Protestante bem como a vida do grande reformador João Calvino.
Logo no início, a obra se dedica em apresentar detalhes pertinentes do contexto em que ocorreu a Reforma Protestante bem como o pano de fundo dos acontecimentos antes dela, especialmente a decadência da Igreja Romana.
O livro se preocupa em destacar que a Reforma, não aconteceu como um movimento de pessoas fora da igreja, muito pelo contrário, servos de Deus, piedosos, de dentro da Igreja Romana, é que promoveu uma revitalização, mas ocasionando a Reforma. Reforma esta, que era revolucionária, no sentido que ao abraçá-la, era impossível a pessoa continuar vivendo do mesmo modo. Assim, a Reforma não apenas, gerou mudanças no pensamento religioso, como também comportamental, pois a Reforma foi um movimento religioso bem como teológico em um tempo marcado pelo Renascimento e o Humanismo, e aconteceu, em um período de grande decadência moral da igreja.
A busca de uma igreja afastada da enfermidade que a atual igreja passava e que fosse comprometida com a Bíblia, se tornando uma igreja cada vez mais pura. Para isto, existe a necessidade do retorno à Bíblia, que é autenticada por ela mesma, mas este retorno e incentivo à leitura da mesma é algo extremamente difícil, pois a taxa de analfabetismo era muito alta. Mas havia o esforço, mesmo assim e até antes da Reforma, de aproximar a Bíblia do povo, fazendo traduções na linguagem falada.
Após o contexto em que ocorreu a Reforma ser apresentado, a obra se dedica em apresentar o grande Reformador e pensador João Calvino, observando a sua vida bem como os seus escritos. Homem que desejou analisar a Bíblia com autenticidade, fugindo de qualquer desvio proposital em suas interpretações e que desejou um cristianismo simples e transformador.
João Calvino, pessoa de grande capacidade e que se dedicou aos estudos, levou sempre uma vida sem exageros e distante de um comportamento imoral e dissoluto se converte a Cristo por volta de 1532-1534. Tempo este em que o povo estava vivendo um momento importante, pois as obras eram escritas e publicadas e assim, o conhecimento estava ao alcance de mais pessoas.
João Calvino estava inserido no contexto do humanismo, que era a valorização do homem e que o homem poderia resolver seus problemas encontrando solução nele mesmo, ou seja, um olhar para dentro de si mesmo. Os desejos dos homens eram buscados não em Deus, mas a partir do que cada um podia estruturar para si. Era a “valorização do homem pelo homem.”
Calvino, como humanista, era aquele que valorizava o homem, que se importava e interessava pelo homem.
Após esta parte inicial que se encontra a apresentação de Calvino, homem que surgiu como um grande reformador, agora o livro se dedica ao pensamento de Calvino, iniciando pela sua hermenêutica que tinha como base a Bíblia, pois esta era para Calvino, a palavra que não deve ser negociada.
A Bíblia, no pensamento de Calvino, é suficiente, pois é completa e ela mesma é quem a interpreta melhor. É o livro divino em sua origem e humano no seu registro. Tudo isto é fato muito pertinente na época, pois era defendida na igreja Católica a tradição como peso igual ou até superior ao da Bíblia e o pensamento de Calvino é completamente diferente.
Para Calvino, a Bíblia é quem direciona o viver e proceder do homem e é a revelação suficiente e completa de Deus ocupando o centro da teologia de Calvino.
Continuando na segunda parte do livro, que vai até ao seu final, a abordagem agora é de uma análise do pensamento de Calvino, quanto a sua crença na doutrina da eleição.
Após iniciar, destacando as Escrituras, a obra destaca que a eleição, é uma abordagem Bíblica, amplamente ensinada nas Escrituras e é a partir do texto bíblico que Calvino desenvolve a doutrina da predestinação. Além da clareza desta verdade na Bíblia, fica evidenciado que a soberania de Deus tem um lugar preeminente no pensamento de Calvino.
A obra destaca com muita beleza, o fato de a eleição não ter acontecido fora de Cristo, pois fora dele, não há salvação. Eleição esta que pressupõe a depravação do homem, por isso, o homem está inabilitado de buscar espiritualmente a Deus, mas Jesus é aquele que na história morreu pelos seus que foram dados na eternidade de modo gratuito para os que são eleitos.
Fazendo uma abordagem exegética de alguns textos, vale ressaltar a gratidão dos eleitos por ter Deus abençoado na eternidade, benção esta comunicada ao longo da história.
Após o desenvolvimento do pensamento de Calvino e sua compreensão profunda quanto à eleição, existe um olhar para o homem como imagem e semelhança de Deus. É uma análise da antropologia bíblica na compreensão de Calvino que a obra se dedica neste momento.
Logo nas primeiras palavras, fica evidente que Deus é quem criou o homem, mas a indagação sobre o homem é forte e permeia a humanidade. Embora fosse Calvino um humanista, não o era de modo secularizado. O homem, na ótica do reformador, não era o centro de tudo. O homem, não deve olhar para dentro de si para se conhecer, mas deve olhar para Deus. Uma vez que é imagem e semelhança não dele mesmo, mas de Deus. Como imagem de Deus, o homem precisa ser respeitado e este ponto é fundamental para o convívio social. Mais uma vez, deparamos com a valorização do homem a partir da teologia de Calvino. Afinal, o homem é aquele amado por Deus que recebeu dele atributos.
No capitulo sexto, Costa se dedica a espiritualidade de Calvino. Este entendia que todo pensamento teológico se relaciona com a vida piedosa, por isso que a teologia de Calvino, surge a partir da própria tentativa do mesmo, em compreender e comentar a Palavra de Deus. Isto aliado ao modo de vida daquele que ama a Deus, e a oração, são os pontos que se destacam na abordagem da obra aqui neste capítulo. Quanto à oração, existe nos escritos de Calvino, uma dedicação profunda e uma ampla abordagem, tal era a importância dela em seu pensamento afirmando ser a oração o exercício da nossa fé na providência de Deus. Assim, a oração deve ser um exercício praticado com muita frequência e a aproximação da Bíblia é o maior estímulo da oração e é a própria Bíblia, que apresenta o modelo de oração e não se deve recorrer a um modelo próprio de oração, tendo como suprassumo, a oração do Senhor.
A oração deve ocorrer, pois é uma ordem de Deus, mas quando tudo está bem, dificilmente recorremos à oração. Calvino, diante desta realidade, apresenta a ideia de ter uma prática sistemática de oração, para que ela não seja negligenciada pelos cristãos. A respeito da oração pública, o texto lembra que Calvino destaca a necessidade de uma oração clara e compreensiva para que o povo assimile o que está sendo apresentado a Deus para a edificação de toda a assembleia.
Percebe-se no capítulo sétimo, a compreensão de Calvino quanto ao culto cristão. Na teologia de Calvino, aqui é abordagem de um ponto central, afinal, o homem foi criado para glorificar a Deus. O texto destaca o vazio do homem como a necessidade que o mesmo tem de buscar a Deus e o culto certamente é o modo mais amplo do retorno do homem, imagem e semelhança de Deus, para o próprio Deus sendo o culto, completamente teocêntrico.
Na abordagem sobre o culto, a obra aborda o sacramento da Santa Ceia. Sacramentos que para Calvino eram sinais visíveis representando uma realidade espiritual. Outros elementos do culto era a música com um papel importantíssimo e bastante característico do culto protestante e a oração que era feita espontaneamente. O culto para Calvino tinha, portanto, a Bíblia como o centro, os sacramentos que são a santa ceia e o batismo, o canto e a oração como partes fundamentais do culto que era uma forma de testificar a fé.
Existe agora o destaque quanto à preocupação de Calvino frente à educação e o quanto a educação era importante para a Reforma, bem como, para o próprio Calvino. “A reforma e a educação” é a proposta da obra a esta altura. A reforma se desenvolve em torno do livro sagrado e ganha força com os escritos dos reformadores, por isso, o analfabetismo era um empecilho à expansão da Reforma. A preocupação dos reformadores quanto à educação, não se limitava ao ensino da Bíblia, mas uma educação ampla que ia do espiritual até o secular, pois com a educação, o homem estaria preparado para servir a Deus na sociedade. A importância da educação refletia não apenas nos que eram servos de Deus, mas devido a graça comum, mesmo aqueles que não serviam a Deus, eram úteis para sociedade. E uma prova do comprometimento de Calvino com a educação, foi instituição do ensino gratuito e obrigatório em Genebra para todas as crianças no chamado College de Rive e a fundação da Academia de Genebra. O que se conclui é que Calvino não mediu esforços para criar um sistema educacional amplo a ponto de livrar o homem da escuridão do não conhecimento.
A obra de Costa chega ao penúltimo capítulo e agora aborda “a ética social de Calvino”. O livro se preocupa em apresentar o pensamento no decurso da história, destacando a compreensão católica quanto ao trabalho que dizia que trabalho tinha como finalidade não o enriquecimento, mas a manutenção do nível social no qual o indivíduo nasceu. A Reforma surge e resgata o pensamento cristão do trabalho, pois este confere ao homem dignidade e valor, pois na visão de Calvino, o trabalho era o chamado de Deus para o individuo para o progresso de toda raça humana. Dentro do pensamento ético social de Calvino três destaques pertinentes são feitos: o trabalho para o sustento digno, a poupança para que haja provisão em tempos necessários e a frugalidade que é a luta contra o desperdício, afinal, somos administradores daquilo que Deus tem nos dado. Assim, o livro, a partir da compreensão de Calvino, chama o leitor a ser grato a Deus.
E por fim, o capítulo décimo, mostra como Calvino percebia a ciência e como interagia com a mesma. O capítulo inicia dizendo que a ciência sempre começa com um ato de fé e continua analisando a ciência e sua compreensão tanto no passado quanto no pensamento moderno. A ciência trabalha com o experimento e sem dúvida alguma que o conhecimento, mesmo o novo conhecimento é muito importante sem desprezar o antigo. Depois de uma observação no desenvolvimento científico e uma análise de grandes cientistas, a obra apresenta uma tensão ao inserir Calvino no diálogo neste contexto de desenvolvimento científico, mas é um engano acreditar que Calvino desprezava a ciência, o problema para a época tinha muito mais a ver com o senso comum. Não apenas Calvino, mas o mundo estava experimentando uma nova proposta de conhecimento a partir da observação científica, mas as teorias de Copérnico, inovadoras, importantes, mas absolutamente novas, nunca foram comentadas em escritos por Calvino. O fato novo da forma da terra e de seu movimento, não era abordagem essencial de Calvino, senão que Deus é o Criador e preservador de tudo. Nas últimas páginas da obra há o destaque do inigualável conhecimento de Deus em contraste com limitado conhecimento do homem. Deus como a fonte de todo conhecimento, pois é o autor de todo conhecimento.
Enfim, a obra é rica em detalhes e situa muito bem Calvino e a Reforma Protestante na história e no contexto religioso, permitindo uma análise fascinante do grande reformador João Calvino.

“Paixão pela verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo”

McGrath,  Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo; tradução Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.

Introdução.
A primeira afirmação da obra de Alister McGrath é que o evangelicalismo é uma forma de cristianismo bastante compromissada que o mundo ocidental desfruta. A partir desta realidade, faz-se necessário engajar o evangelicalismo nas principais visões do mundo. Ainda nas primeiras páginas do livro, a autor mostra que o conceito de evangelicalismo, devido à herança fundamentalista norte-estado-unidense, é vista de modo preconceituoso e não bem vista na academia teológica, mas para o escritor, o evangelicalismo já tem bagagem suficiente para estar entre as notoriedades dessa academia. Além do fundamentalismo, destaca-se o pragmatismo do evangelicalismo, mas não realmente prático à prática pastoral apontando para a falta de propósito da igreja. Na parte introdutória, McGrath ainda aborda “o secularismo da academia” onde afirma que a academia perdeu qualquer ligação e não está preocupada com o dia a dia do povo, bem como “o elitismo da teologia acadêmica”. McGrath diz a obra de sua autoria, pretende formar uma mente evangélica e o mesmo aponta para uma formação evangélica a partir do que Jesus foi e do ponto de vista Bíblico.

A Singularidade de Jesus Cristo.
O cristianismo é singular dentre as religiões do mundo e esta singularidade é devido a singularidade de Jesus, singularidade esta, sempre defendida o proclamada pelo evangelicalismo. Enquanto escritores que têm proximidade com o iluminismo promove uma religião baseada em normas como a razão ou a experiência, o evangelicalismo baseia-se na pessoa do próprio Deus. Afinal, Jesus Cristo é a pessoa “constitutiva e definitiva para o cristianismo” e não necessita de encontrar uma autoridade externa a ele mesmo. Mas a obra destaca as dificuldades que a razão e todos os adeptos do iluminismo têm de aceitar esta autoridade, Jesus, para eles, não tem autoridade por estabelecer valores que tem a ver com a religião ou com a moral, mas simplesmente, testifica o que a modernidade entende sobre isto. Abordando aspectos da modernidade, o desenvolvimento do mundo, a obra se preocupa em enfatizar a importância de Cristo mostrando que para o pensamento evangélico, Cristo é a autoridade que liberta, afinal, o conceito modernista é de dominação. Cristo que deve ser para os cristãos, o exemplo para se seguir e assim toda teologia evangelicalista é cristocêntrica, pois o que de mais essencial pode acontecer, só é possível por meio de Jesus, que é a salvação. Sendo assim, a proclamação de Cristo é extremamente importante e essencial. Este investimento na proclamação pelo evangelicalismo, se pelo fato justamente da salvação, sendo Cristo o Salvador, precisa ser anunciado.

A autoridade da Escritura.
O autor inicia este capítulo citando Martinho Lutero e o quanto o mesmo era dependente da Palavra de Deus. Aqui, existe o elo que liga o evangelicalismo à Reforma Protestante, pois ambos fundamentam-se o pensamento na Palavra de Deus que tem Jesus Cristo como o centro dela, pois Deus se auto revela na pessoa de Jesus. McGrath procura mostrar que a Escritura tem autoridade, mas Cristo, o Deus revelado, é o centro de tudo, então a obra diz que “os cristãos não são os que creem na Bíblia, e sim os que creem em Cristo”. A aceitação das Escrituras bem como a convicção de sua autoridade, se deve principalmente pelo fato de que Cristo recebeu a Bíblia como autoridade. Por tudo isto, a autoridade bíblica bem como a cristologia, são completamente ligadas, pois o mesmo Deus que envia Jesus, deu as Escrituras. A autoridade das Escrituras repousa sobre os aspectos teológicos e históricos.
A Igreja cristã não tem nenhuma dificuldade com a autoridade das Escrituras, mas há muitos quem têm sérias dificuldades. Por isso, a obra afirma que é fácil encontrar muitos artigos na academia ocidental que colocam em cheque a autoridade da bíblia, mas este pensamento não é compactuado pelo autor da obra que diz que este problema ocorre por causa de uma anomalia gerada pelo crescimento dentro dos meios cristãos. Mas o fato é que os adeptos a autoridade da bíblia no meio cristão cresce enquanto os não adeptos a isto vêm diminuindo.
No decurso da história, algumas forças tentaram sobrepor à autoridade das Escrituras, mas não puderam, mas a obra destaca forças rivais a Palavra de Deus, são elas: A- Cultura, pois alguns liberais acreditam e argumentam que as Escrituras devem buscar a legitimação e justificação pública se relacionando com a cultura. A afirmação é que a teologia cristã deve dialogar e abrir espaço para a atuação da mesma em seu domínio. Mas para quem afirmava isto, logo percebeu que a cultura não teria a menor condição de dar base à teologia, isto ficou evidente com as transformações ocasionadas na cultura alemã com a entrada do socialismo. B- Experiência, muito semelhante ao ponto anterior, teólogos liberais afirmaram que a experiência é que deve dar base a teologia. A defesa diz que a experiência vem antes da teologia, por isso a base deve ser a experiência. A obra então desenvolve os aspectos relacionados de vários pensadores e teólogos, mas o mundo evangelicalista, afirma que isto não é possível, pois oferece apenas “uma estrutura interpretativa pela qual a experiência humana pode ser interpretada”. C- Razão que é fruto do iluminismo e logo de início, a obra já destaca que a sabedoria deve ser “universalmente acessível”. É exatamente por isso que a ideia de um conhecimento exclusivo de Deus por meio da revelação não é aceito. Ao analisar o pensamento que defende a razão, McGrath aponta para a ideia de defensores, que eram convictos que a razão sozinha podia assumir o papel normativo, negando então a importância absoluta de Jesus Cristo para a teologia cristã. O homem sozinho tem a capacidade de acessar o conhecimento de Deus. Mas para McGrath a razão conforme é defendida, “é falha na hora de entregar seus benefícios”. D- Tradição é a abordagem que dá sequência. Para muitos escritores, a tradição tem um peso muito grande, portanto, cheia de autoridade. Vale destacar que antes da leitura atual da Bíblia, muitos outros já a leram antes. Existe uma forma de tradição presente no cristianismo, de modo que vale lembrar que a proposta não é de ter duas fontes de autoridade, mas sim uma convivendo com a outra intensamente. Em parte, diz McGrath, “a autoridade da Palavra de Deus, está sobre a aceitação universal dessa autoridade dentro da igreja cristã”. Sendo o reconhecimento da autoridade da Escritura, o testemunho da igreja. Reconhecer a autoridade das Escrituras é o reconhecimento da vontade de Deus e de tudo que Jesus fez, bem como honrar a tradição da igreja que ao longo da história, vem reconhecendo esta autoridade.
A crítica bíblia para os não evangélicos tem sido um empecilho para reconhecer a autoridade dela, pois evidencia a Bíblia como um livro humano. Os evangélicos por sua vez, entendem que é necessário olhar para a Escritura diferente do que tem acontecido até então. Deve-se olhar entendendo que a mesma é falível, embora inspirada. Outros se afastam completamente da crítica. Ambos são problemáticos, o ideal é dialogar entre os dois pontos. Após isto, McGrath se dedica para fechar o capítulo segundo, com a narrativa bíblica, controvérsias ao longo da história e o fato do evangélico não abrir mão do princípio reformado de que a Bíblia revela a própria Bíblia.

Evangelicalismo e pós- liberalismo.
McGrath inicia dizendo que pretende neste capítulo, destacar pontos passíveis de crítica de pensamentos contrários a partir da ótica evangélica.
Em relação ao liberalismo, que pode ser definido como uma posição teológica, existe uma reação muito grande contra o mesmo tanto na academia quanto na igreja, pois é visto como uma “ameaça à integridade e identidade cristã”. McGrath após abordar questões pontuais sobre o liberalismo, gasta tempo desenvolvendo a questão do liberalismo teológico, que é a abertura para outros pontos de vista, liberalismo este, que tem sido descartado pelos cristãos conservadores e tradicionais. Embora seja o liberalismo visto como uma ameaça, é necessário olhá-lo como importante e para conhecê-lo, faz-se necessário olhar de modo amplo, observando não apenas para o liberalismo teológico, mas o liberalismo de modo geral.
Dentro deste capítulo, a obra fala sobre redescobrir o gênero distinto do cristianismo. Diz que na teologia acadêmica, existe o conceito que qualquer visão que não aceita o cristianismo como distinto, deve ser rejeitada. Afinal, diz Paul Holmer, o liberalismo errou ao reinterpretar conceitos bíblicos. Logo após isto, McGrath fala sobre a crítica evangélica ao pós-liberalismo, com tudo o que foi explanado até então na obra.  Destacando três pontos como seguem: 1- O que é verdade? Para o pós-liberalismo, a verdade é relativizada e reduzida a uma coerência interna. Mas o cristianismo está fundamentado na verdade e esta verdade é Jesus Cristo o Senhor e Salvador. Tudo isto, revelado nas Escrituras. 2 – Por que a Bíblia? “A crítica que o evangelicalismo dirige contra o pós-liberalismo nesse ponto é a seguinte: a priorização das Escrituras não está adequadamente fundamentada no plano teológico.” 3 – Por que Jesus Cristo? Aqui a obra trabalha o pensamento de Bultmann e de Frei, mostrando que o evangelicalismo tem dificuldades com o pensamento de ambos, mas será de grande importância avançar no diálogo com os teólogos pós-liberais encarando-os como pesquisadores e não como pessoas prontas a definir um conjunto de doutrinas.

Evangelicalismo e pós-modernismo.
O início do capítulo fala sobre o termo “pós-modernismo”, como um termo que ganhou força na metade da década de 1970 e já tem ampla aceitação. Uma vez que os principais países onde o iluminismo cresceu, eram países cristãos, com isto, a influência iluminista foi muito grande sobre o evagelicalismo.
O pós-modernismo é uma reação que luta contra os pensamentos iluministas. Em resposta a força da razão, este pós-modernismo, cresce e faz haver uma redução das ideias iluministas, isto é; o enfraquecimento da razão, mas cabe ressaltar, que o evagelicalismo não rejeita as ideias e métodos racionalistas, mas que aos poucos, esta influencia felizmente vem perdendo força. Ao traçar um paralelo entre a modernidade e a pós-modernidade, percebe-se as diferenças como se vê na modernidade que é caracterizada pelo propósito, projeto, hierarquia, centralização e seleção. Já a pós-modernismo destaca-se a brincadeira, acaso, anarquia, dispersão e combinação. Mesmo não sendo algo bem definido, a pós-modernidade surge por ocasião do colapso sofrido pela modernidade, o autor diz claramente sobre a morte da modernidade. Ao definir a pós-modernidade, percebe-se que é um tempo de “sensibilidade cultural sem absolutos, certezas ou fundamentos, que se deleita no pluralismo e divergência”. Um tempo, chamado de pós-modernimo que tem grande aversão às questões sobre a verdade, pois o conceito de verdade não passa de ilusão.

Evangelicalismo e pluralismo religioso.
“O evangelicalismo afirma que o evangelho cristão é singular, e não pode ser confundido ou identificado em nenhuma outra religião ou filosofia de vida”. Já o pluralismo religioso, é algo bastante antigo e não recente como alguns defendem, pois já nos dias do apóstolo Paulo, já estava presente o pluralismo religioso.
Embora exista a ênfase distinta colocada no diálogo dentro da realidade pluralista, há o grande diferencial cristão dentro do pluralismo que é efetivamente Jesus e isto é disseminado para outros pontos especialmente o modo de salvação. Enquanto as religiões do mundo apresentam modos diferentes de salvação, para os cristãos, a salvação é da vontade de Deus e fundamentada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo que para os cristãos, é a revelação de Deus. Por isso, o pluralismo religioso acredita que se os cristãos olharem para Jesus diferente, será possível uma aproximação das religiões do mundo.
O que não se pode negar é que o cristianismo vive no pluralismo religioso, mas isto não é fator decisivo para qualquer mudança de pensamento evangelicalista.

Conclusão
O evangelicalismo é importante para o futuro cristão, pois está engajado e comprometido com o evangelho e afirma que em nível acadêmico, a voz evangélica precisa ser ouvida e que os evangélicos não precisam se subestimar-se a ponto de acharem-se “vulneráveis na defensiva, ou pedindo desculpas sobre as crenças que os distinguem dos seguidores de outras doutrinas religiosas.” “A tarefa de formatar e renovar a vida da mente cristã é o que aguarda agora”.

“O Habitat Humano: o paraíso perdido.”

CAMPOS, Heber Carlos de. O Habitat humano: o paraíso perdido. São Paulo: Hagnos, 2012.

A obra de Campos é uma das poucas que aprofunda um assunto tão instigante e fascinante que é o da antropologia bíblia. Com a leitura do livro de Campos, percebe-se que é feita uma análise centrada nos primeiros capítulos de Gênesis.
O autor aprofunda aspectos relacionados ao paraíso perdido que é apresentado em Gênesis conforme originalmente criado por Deus. Existe a preocupação em destacar o homem criado a imagem de Deus. O autor busca mostrar a realidade humana sem pecado e faz uma comparação com a realidade pós-queda mostrando que toda a criação de Deus foi grandemente afetada.
Em relação ao paraíso perdido, a obra trata de aspectos geográficos do Édem e de detalhes do próprio jardim como a realidade a respeito das árvores existentes ali.
Sobre a geografia, destaca-se o aspecto de ter sido o lugar mais fértil da terra, hoje um local extramente seco e com ares desérticos.
Após isto, Campos se dedica a mostrar a abundância de água e aborda sobre a presença dos quatros rios ali bem como trata da riqueza presente no jardim.
Indo mais adiante, Campos mostra que o trabalho era uma realidade presente no jardim e que o mesmo não é fruto do pecado e mostra como era a liberdade do homem antes da queda. Pensando no homem social, a obra gasta um bom tempo para refletir no aspecto relacional do homem. O próprio Deus viu que não era bom o homem viver só. A partir de então, Campos trabalha aspectos do homem, da mulher e de ambos como uma só carne. Campos também se preocupa em abordar aspectos sobre o culto a Deus, ou seja, verdade sobre a vida espiritual no paraíso.

“Criados à Imagem de Deus”

HOEKEMA, Anthony A. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.

O autor da obra mostra, conforme o próprio título do livro que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas não fica apenas neste ponto, pois o livro vai desenvolver a seguir aspectos sobre a queda do homem e também da sua redenção.
Hoekema ao desenvolver o assunto pensando sobre o homem; entende que o mesmo não pode ser compreendido fora do relacionamento com o seu criador que é Deus. Afinal, o homem foi criado à imagem e semelhança do próprio Deus. E a compreensão que o livro traz sobre o homem é que este não é um ser dualista onde está o espírito separado da matéria, mas deve ser visto e entendido como sendo o homem de modo completo, seja olhando para a matéria ou mesmo para o espírito.
Ao escrever sobre Jesus, Hoekema diz ser Ele a representatividade ideal de Deus que deve ser seguido pelo homem.
O livro ainda traz de modo claro a questão concernente ao pecado e diz que o pecado não tem Deus como autor, mas que o pecado não aconteceu fora da vontade de Deus. Já o homem caído, não é capaz de escolher entre o bem e o mal, mas que o homem regenerado não é mais escravo do pecado e, portanto, pode escolher entre pecar e não pecar. Aqui é que Hoekema desenvolve a questão da santidade. O homem age em prol de sua santidade.