Gratidão

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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“Paixão pela verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo”

McGrath,  Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo; tradução Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.

Introdução.
A primeira afirmação da obra de Alister McGrath é que o evangelicalismo é uma forma de cristianismo bastante compromissada que o mundo ocidental desfruta. A partir desta realidade, faz-se necessário engajar o evangelicalismo nas principais visões do mundo. Ainda nas primeiras páginas do livro, a autor mostra que o conceito de evangelicalismo, devido à herança fundamentalista norte-estado-unidense, é vista de modo preconceituoso e não bem vista na academia teológica, mas para o escritor, o evangelicalismo já tem bagagem suficiente para estar entre as notoriedades dessa academia. Além do fundamentalismo, destaca-se o pragmatismo do evangelicalismo, mas não realmente prático à prática pastoral apontando para a falta de propósito da igreja. Na parte introdutória, McGrath ainda aborda “o secularismo da academia” onde afirma que a academia perdeu qualquer ligação e não está preocupada com o dia a dia do povo, bem como “o elitismo da teologia acadêmica”. McGrath diz a obra de sua autoria, pretende formar uma mente evangélica e o mesmo aponta para uma formação evangélica a partir do que Jesus foi e do ponto de vista Bíblico.

A Singularidade de Jesus Cristo.
O cristianismo é singular dentre as religiões do mundo e esta singularidade é devido a singularidade de Jesus, singularidade esta, sempre defendida o proclamada pelo evangelicalismo. Enquanto escritores que têm proximidade com o iluminismo promove uma religião baseada em normas como a razão ou a experiência, o evangelicalismo baseia-se na pessoa do próprio Deus. Afinal, Jesus Cristo é a pessoa “constitutiva e definitiva para o cristianismo” e não necessita de encontrar uma autoridade externa a ele mesmo. Mas a obra destaca as dificuldades que a razão e todos os adeptos do iluminismo têm de aceitar esta autoridade, Jesus, para eles, não tem autoridade por estabelecer valores que tem a ver com a religião ou com a moral, mas simplesmente, testifica o que a modernidade entende sobre isto. Abordando aspectos da modernidade, o desenvolvimento do mundo, a obra se preocupa em enfatizar a importância de Cristo mostrando que para o pensamento evangélico, Cristo é a autoridade que liberta, afinal, o conceito modernista é de dominação. Cristo que deve ser para os cristãos, o exemplo para se seguir e assim toda teologia evangelicalista é cristocêntrica, pois o que de mais essencial pode acontecer, só é possível por meio de Jesus, que é a salvação. Sendo assim, a proclamação de Cristo é extremamente importante e essencial. Este investimento na proclamação pelo evangelicalismo, se pelo fato justamente da salvação, sendo Cristo o Salvador, precisa ser anunciado.

A autoridade da Escritura.
O autor inicia este capítulo citando Martinho Lutero e o quanto o mesmo era dependente da Palavra de Deus. Aqui, existe o elo que liga o evangelicalismo à Reforma Protestante, pois ambos fundamentam-se o pensamento na Palavra de Deus que tem Jesus Cristo como o centro dela, pois Deus se auto revela na pessoa de Jesus. McGrath procura mostrar que a Escritura tem autoridade, mas Cristo, o Deus revelado, é o centro de tudo, então a obra diz que “os cristãos não são os que creem na Bíblia, e sim os que creem em Cristo”. A aceitação das Escrituras bem como a convicção de sua autoridade, se deve principalmente pelo fato de que Cristo recebeu a Bíblia como autoridade. Por tudo isto, a autoridade bíblica bem como a cristologia, são completamente ligadas, pois o mesmo Deus que envia Jesus, deu as Escrituras. A autoridade das Escrituras repousa sobre os aspectos teológicos e históricos.
A Igreja cristã não tem nenhuma dificuldade com a autoridade das Escrituras, mas há muitos quem têm sérias dificuldades. Por isso, a obra afirma que é fácil encontrar muitos artigos na academia ocidental que colocam em cheque a autoridade da bíblia, mas este pensamento não é compactuado pelo autor da obra que diz que este problema ocorre por causa de uma anomalia gerada pelo crescimento dentro dos meios cristãos. Mas o fato é que os adeptos a autoridade da bíblia no meio cristão cresce enquanto os não adeptos a isto vêm diminuindo.
No decurso da história, algumas forças tentaram sobrepor à autoridade das Escrituras, mas não puderam, mas a obra destaca forças rivais a Palavra de Deus, são elas: A- Cultura, pois alguns liberais acreditam e argumentam que as Escrituras devem buscar a legitimação e justificação pública se relacionando com a cultura. A afirmação é que a teologia cristã deve dialogar e abrir espaço para a atuação da mesma em seu domínio. Mas para quem afirmava isto, logo percebeu que a cultura não teria a menor condição de dar base à teologia, isto ficou evidente com as transformações ocasionadas na cultura alemã com a entrada do socialismo. B- Experiência, muito semelhante ao ponto anterior, teólogos liberais afirmaram que a experiência é que deve dar base a teologia. A defesa diz que a experiência vem antes da teologia, por isso a base deve ser a experiência. A obra então desenvolve os aspectos relacionados de vários pensadores e teólogos, mas o mundo evangelicalista, afirma que isto não é possível, pois oferece apenas “uma estrutura interpretativa pela qual a experiência humana pode ser interpretada”. C- Razão que é fruto do iluminismo e logo de início, a obra já destaca que a sabedoria deve ser “universalmente acessível”. É exatamente por isso que a ideia de um conhecimento exclusivo de Deus por meio da revelação não é aceito. Ao analisar o pensamento que defende a razão, McGrath aponta para a ideia de defensores, que eram convictos que a razão sozinha podia assumir o papel normativo, negando então a importância absoluta de Jesus Cristo para a teologia cristã. O homem sozinho tem a capacidade de acessar o conhecimento de Deus. Mas para McGrath a razão conforme é defendida, “é falha na hora de entregar seus benefícios”. D- Tradição é a abordagem que dá sequência. Para muitos escritores, a tradição tem um peso muito grande, portanto, cheia de autoridade. Vale destacar que antes da leitura atual da Bíblia, muitos outros já a leram antes. Existe uma forma de tradição presente no cristianismo, de modo que vale lembrar que a proposta não é de ter duas fontes de autoridade, mas sim uma convivendo com a outra intensamente. Em parte, diz McGrath, “a autoridade da Palavra de Deus, está sobre a aceitação universal dessa autoridade dentro da igreja cristã”. Sendo o reconhecimento da autoridade da Escritura, o testemunho da igreja. Reconhecer a autoridade das Escrituras é o reconhecimento da vontade de Deus e de tudo que Jesus fez, bem como honrar a tradição da igreja que ao longo da história, vem reconhecendo esta autoridade.
A crítica bíblia para os não evangélicos tem sido um empecilho para reconhecer a autoridade dela, pois evidencia a Bíblia como um livro humano. Os evangélicos por sua vez, entendem que é necessário olhar para a Escritura diferente do que tem acontecido até então. Deve-se olhar entendendo que a mesma é falível, embora inspirada. Outros se afastam completamente da crítica. Ambos são problemáticos, o ideal é dialogar entre os dois pontos. Após isto, McGrath se dedica para fechar o capítulo segundo, com a narrativa bíblica, controvérsias ao longo da história e o fato do evangélico não abrir mão do princípio reformado de que a Bíblia revela a própria Bíblia.

Evangelicalismo e pós- liberalismo.
McGrath inicia dizendo que pretende neste capítulo, destacar pontos passíveis de crítica de pensamentos contrários a partir da ótica evangélica.
Em relação ao liberalismo, que pode ser definido como uma posição teológica, existe uma reação muito grande contra o mesmo tanto na academia quanto na igreja, pois é visto como uma “ameaça à integridade e identidade cristã”. McGrath após abordar questões pontuais sobre o liberalismo, gasta tempo desenvolvendo a questão do liberalismo teológico, que é a abertura para outros pontos de vista, liberalismo este, que tem sido descartado pelos cristãos conservadores e tradicionais. Embora seja o liberalismo visto como uma ameaça, é necessário olhá-lo como importante e para conhecê-lo, faz-se necessário olhar de modo amplo, observando não apenas para o liberalismo teológico, mas o liberalismo de modo geral.
Dentro deste capítulo, a obra fala sobre redescobrir o gênero distinto do cristianismo. Diz que na teologia acadêmica, existe o conceito que qualquer visão que não aceita o cristianismo como distinto, deve ser rejeitada. Afinal, diz Paul Holmer, o liberalismo errou ao reinterpretar conceitos bíblicos. Logo após isto, McGrath fala sobre a crítica evangélica ao pós-liberalismo, com tudo o que foi explanado até então na obra.  Destacando três pontos como seguem: 1- O que é verdade? Para o pós-liberalismo, a verdade é relativizada e reduzida a uma coerência interna. Mas o cristianismo está fundamentado na verdade e esta verdade é Jesus Cristo o Senhor e Salvador. Tudo isto, revelado nas Escrituras. 2 – Por que a Bíblia? “A crítica que o evangelicalismo dirige contra o pós-liberalismo nesse ponto é a seguinte: a priorização das Escrituras não está adequadamente fundamentada no plano teológico.” 3 – Por que Jesus Cristo? Aqui a obra trabalha o pensamento de Bultmann e de Frei, mostrando que o evangelicalismo tem dificuldades com o pensamento de ambos, mas será de grande importância avançar no diálogo com os teólogos pós-liberais encarando-os como pesquisadores e não como pessoas prontas a definir um conjunto de doutrinas.

Evangelicalismo e pós-modernismo.
O início do capítulo fala sobre o termo “pós-modernismo”, como um termo que ganhou força na metade da década de 1970 e já tem ampla aceitação. Uma vez que os principais países onde o iluminismo cresceu, eram países cristãos, com isto, a influência iluminista foi muito grande sobre o evagelicalismo.
O pós-modernismo é uma reação que luta contra os pensamentos iluministas. Em resposta a força da razão, este pós-modernismo, cresce e faz haver uma redução das ideias iluministas, isto é; o enfraquecimento da razão, mas cabe ressaltar, que o evagelicalismo não rejeita as ideias e métodos racionalistas, mas que aos poucos, esta influencia felizmente vem perdendo força. Ao traçar um paralelo entre a modernidade e a pós-modernidade, percebe-se as diferenças como se vê na modernidade que é caracterizada pelo propósito, projeto, hierarquia, centralização e seleção. Já a pós-modernismo destaca-se a brincadeira, acaso, anarquia, dispersão e combinação. Mesmo não sendo algo bem definido, a pós-modernidade surge por ocasião do colapso sofrido pela modernidade, o autor diz claramente sobre a morte da modernidade. Ao definir a pós-modernidade, percebe-se que é um tempo de “sensibilidade cultural sem absolutos, certezas ou fundamentos, que se deleita no pluralismo e divergência”. Um tempo, chamado de pós-modernimo que tem grande aversão às questões sobre a verdade, pois o conceito de verdade não passa de ilusão.

Evangelicalismo e pluralismo religioso.
“O evangelicalismo afirma que o evangelho cristão é singular, e não pode ser confundido ou identificado em nenhuma outra religião ou filosofia de vida”. Já o pluralismo religioso, é algo bastante antigo e não recente como alguns defendem, pois já nos dias do apóstolo Paulo, já estava presente o pluralismo religioso.
Embora exista a ênfase distinta colocada no diálogo dentro da realidade pluralista, há o grande diferencial cristão dentro do pluralismo que é efetivamente Jesus e isto é disseminado para outros pontos especialmente o modo de salvação. Enquanto as religiões do mundo apresentam modos diferentes de salvação, para os cristãos, a salvação é da vontade de Deus e fundamentada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo que para os cristãos, é a revelação de Deus. Por isso, o pluralismo religioso acredita que se os cristãos olharem para Jesus diferente, será possível uma aproximação das religiões do mundo.
O que não se pode negar é que o cristianismo vive no pluralismo religioso, mas isto não é fator decisivo para qualquer mudança de pensamento evangelicalista.

Conclusão
O evangelicalismo é importante para o futuro cristão, pois está engajado e comprometido com o evangelho e afirma que em nível acadêmico, a voz evangélica precisa ser ouvida e que os evangélicos não precisam se subestimar-se a ponto de acharem-se “vulneráveis na defensiva, ou pedindo desculpas sobre as crenças que os distinguem dos seguidores de outras doutrinas religiosas.” “A tarefa de formatar e renovar a vida da mente cristã é o que aguarda agora”.

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