McGrath, Alister. Paixão pela verdade: a coerência
intelectual do Evangelicalismo; tradução Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd
Publicações, 2007.
A primeira
afirmação da obra de Alister McGrath é que o evangelicalismo é uma forma de
cristianismo bastante compromissada que o mundo ocidental desfruta. A partir
desta realidade, faz-se necessário engajar o evangelicalismo nas principais
visões do mundo. Ainda nas primeiras páginas do livro, a autor mostra que o
conceito de evangelicalismo, devido à herança fundamentalista
norte-estado-unidense, é vista de modo preconceituoso e não bem vista na
academia teológica, mas para o escritor, o evangelicalismo já tem bagagem
suficiente para estar entre as notoriedades dessa academia. Além do
fundamentalismo, destaca-se o pragmatismo do evangelicalismo, mas não realmente
prático à prática pastoral apontando para a falta de propósito da igreja. Na
parte introdutória, McGrath ainda aborda “o secularismo da academia” onde
afirma que a academia perdeu qualquer ligação e não está preocupada com o dia a
dia do povo, bem como “o elitismo da teologia acadêmica”. McGrath diz a obra de
sua autoria, pretende formar uma mente evangélica e o mesmo aponta para uma
formação evangélica a partir do que Jesus foi e do ponto de vista Bíblico.
A Singularidade de Jesus
Cristo.
O
cristianismo é singular dentre as religiões do mundo e esta singularidade é
devido a singularidade de Jesus, singularidade esta, sempre defendida o
proclamada pelo evangelicalismo. Enquanto escritores que têm proximidade com o
iluminismo promove uma religião baseada em normas como a razão ou a
experiência, o evangelicalismo baseia-se na pessoa do próprio Deus. Afinal,
Jesus Cristo é a pessoa “constitutiva e definitiva para o cristianismo” e não
necessita de encontrar uma autoridade externa a ele mesmo. Mas a obra destaca
as dificuldades que a razão e todos os adeptos do iluminismo têm de aceitar
esta autoridade, Jesus, para eles, não tem autoridade por estabelecer valores
que tem a ver com a religião ou com a moral, mas simplesmente, testifica o que
a modernidade entende sobre isto. Abordando aspectos da modernidade, o
desenvolvimento do mundo, a obra se preocupa em enfatizar a importância de
Cristo mostrando que para o pensamento evangélico, Cristo é a autoridade que
liberta, afinal, o conceito modernista é de dominação. Cristo que deve ser para
os cristãos, o exemplo para se seguir e assim toda teologia evangelicalista é
cristocêntrica, pois o que de mais essencial pode acontecer, só é possível por
meio de Jesus, que é a salvação. Sendo assim, a proclamação de Cristo é
extremamente importante e essencial. Este investimento na proclamação pelo
evangelicalismo, se pelo fato justamente da salvação, sendo Cristo o Salvador,
precisa ser anunciado.
A autoridade da Escritura.
O autor
inicia este capítulo citando Martinho Lutero e o quanto o mesmo era dependente
da Palavra de Deus. Aqui, existe o elo que liga o evangelicalismo à Reforma
Protestante, pois ambos fundamentam-se o pensamento na Palavra de Deus que tem
Jesus Cristo como o centro dela, pois Deus se auto revela na pessoa de Jesus.
McGrath procura mostrar que a Escritura tem autoridade, mas Cristo, o Deus
revelado, é o centro de tudo, então a obra diz que “os cristãos não são os que
creem na Bíblia, e sim os que creem em Cristo”. A aceitação das Escrituras bem
como a convicção de sua autoridade, se deve principalmente pelo fato de que
Cristo recebeu a Bíblia como autoridade. Por tudo isto, a autoridade bíblica
bem como a cristologia, são completamente ligadas, pois o mesmo Deus que envia
Jesus, deu as Escrituras. A autoridade das Escrituras repousa sobre os aspectos
teológicos e históricos.
A Igreja
cristã não tem nenhuma dificuldade com a autoridade das Escrituras, mas há
muitos quem têm sérias dificuldades. Por isso, a obra afirma que é fácil
encontrar muitos artigos na academia ocidental que colocam em cheque a
autoridade da bíblia, mas este pensamento não é compactuado pelo autor da obra
que diz que este problema ocorre por causa de uma anomalia gerada pelo crescimento
dentro dos meios cristãos. Mas o fato é que os adeptos a autoridade da bíblia
no meio cristão cresce enquanto os não adeptos a isto vêm diminuindo.
No decurso
da história, algumas forças tentaram sobrepor à autoridade das Escrituras, mas
não puderam, mas a obra destaca forças rivais a Palavra de Deus, são elas: A-
Cultura, pois alguns liberais acreditam e argumentam que as Escrituras devem
buscar a legitimação e justificação pública se relacionando com a cultura. A
afirmação é que a teologia cristã deve dialogar e abrir espaço para a atuação
da mesma em seu domínio. Mas para quem afirmava isto, logo percebeu que a
cultura não teria a menor condição de dar base à teologia, isto ficou evidente
com as transformações ocasionadas na cultura alemã com a entrada do socialismo.
B- Experiência, muito semelhante ao ponto anterior, teólogos liberais afirmaram
que a experiência é que deve dar base a teologia. A defesa diz que a
experiência vem antes da teologia, por isso a base deve ser a experiência. A
obra então desenvolve os aspectos relacionados de vários pensadores e teólogos,
mas o mundo evangelicalista, afirma que isto não é possível, pois oferece
apenas “uma estrutura interpretativa pela qual a experiência humana pode ser
interpretada”. C- Razão que é fruto do iluminismo e logo de início, a obra já
destaca que a sabedoria deve ser “universalmente acessível”. É exatamente por
isso que a ideia de um conhecimento exclusivo de Deus por meio da revelação não
é aceito. Ao analisar o pensamento que defende a razão, McGrath aponta para a
ideia de defensores, que eram convictos que a razão sozinha podia assumir o
papel normativo, negando então a importância absoluta de Jesus Cristo para a
teologia cristã. O homem sozinho tem a capacidade de acessar o conhecimento de
Deus. Mas para McGrath a razão conforme é defendida, “é falha na hora de
entregar seus benefícios”. D- Tradição é a abordagem que dá sequência. Para
muitos escritores, a tradição tem um peso muito grande, portanto, cheia de
autoridade. Vale destacar que antes da leitura atual da Bíblia, muitos outros
já a leram antes. Existe uma forma de tradição presente no cristianismo, de
modo que vale lembrar que a proposta não é de ter duas fontes de autoridade,
mas sim uma convivendo com a outra intensamente. Em parte, diz McGrath, “a
autoridade da Palavra de Deus, está sobre a aceitação universal dessa
autoridade dentro da igreja cristã”. Sendo o reconhecimento da autoridade da
Escritura, o testemunho da igreja. Reconhecer a autoridade das Escrituras é o
reconhecimento da vontade de Deus e de tudo que Jesus fez, bem como honrar a
tradição da igreja que ao longo da história, vem reconhecendo esta autoridade.
A crítica
bíblia para os não evangélicos tem sido um empecilho para reconhecer a
autoridade dela, pois evidencia a Bíblia como um livro humano. Os evangélicos
por sua vez, entendem que é necessário olhar para a Escritura diferente do que
tem acontecido até então. Deve-se olhar entendendo que a mesma é falível,
embora inspirada. Outros se afastam completamente da crítica. Ambos são
problemáticos, o ideal é dialogar entre os dois pontos. Após isto, McGrath se
dedica para fechar o capítulo segundo, com a narrativa bíblica, controvérsias
ao longo da história e o fato do evangélico não abrir mão do princípio
reformado de que a Bíblia revela a própria Bíblia.
Evangelicalismo e pós-
liberalismo.
McGrath
inicia dizendo que pretende neste capítulo, destacar pontos passíveis de
crítica de pensamentos contrários a partir da ótica evangélica.
Em relação
ao liberalismo, que pode ser definido como uma posição teológica, existe uma
reação muito grande contra o mesmo tanto na academia quanto na igreja, pois é
visto como uma “ameaça à integridade e identidade cristã”. McGrath após abordar
questões pontuais sobre o liberalismo, gasta tempo desenvolvendo a questão do
liberalismo teológico, que é a abertura para outros pontos de vista,
liberalismo este, que tem sido descartado pelos cristãos conservadores e
tradicionais. Embora seja o liberalismo visto como uma ameaça, é necessário
olhá-lo como importante e para conhecê-lo, faz-se necessário olhar de modo
amplo, observando não apenas para o liberalismo teológico, mas o liberalismo de
modo geral.
Dentro deste
capítulo, a obra fala sobre redescobrir o gênero distinto do cristianismo. Diz
que na teologia acadêmica, existe o conceito que qualquer visão que não aceita
o cristianismo como distinto, deve ser rejeitada. Afinal, diz Paul Holmer, o
liberalismo errou ao reinterpretar conceitos bíblicos. Logo após isto, McGrath
fala sobre a crítica evangélica ao pós-liberalismo, com tudo o que foi
explanado até então na obra. Destacando
três pontos como seguem: 1- O que é verdade? Para o pós-liberalismo, a verdade
é relativizada e reduzida a uma coerência interna. Mas o cristianismo está
fundamentado na verdade e esta verdade é Jesus Cristo o Senhor e Salvador. Tudo
isto, revelado nas Escrituras. 2 – Por que a Bíblia? “A crítica que o
evangelicalismo dirige contra o pós-liberalismo nesse ponto é a seguinte: a
priorização das Escrituras não está adequadamente fundamentada no plano
teológico.” 3 – Por que Jesus Cristo? Aqui a obra trabalha o pensamento de
Bultmann e de Frei, mostrando que o evangelicalismo tem dificuldades com o
pensamento de ambos, mas será de grande importância avançar no diálogo com os teólogos
pós-liberais encarando-os como pesquisadores e não como pessoas prontas a
definir um conjunto de doutrinas.
Evangelicalismo e
pós-modernismo.
O início do
capítulo fala sobre o termo “pós-modernismo”, como um termo que ganhou força na
metade da década de 1970 e já tem ampla aceitação. Uma vez que os principais
países onde o iluminismo cresceu, eram países cristãos, com isto, a influência
iluminista foi muito grande sobre o evagelicalismo.
O
pós-modernismo é uma reação que luta contra os pensamentos iluministas. Em
resposta a força da razão, este pós-modernismo, cresce e faz haver uma redução
das ideias iluministas, isto é; o enfraquecimento da razão, mas cabe ressaltar,
que o evagelicalismo não rejeita as ideias e métodos racionalistas, mas que aos
poucos, esta influencia felizmente vem perdendo força. Ao traçar um paralelo
entre a modernidade e a pós-modernidade, percebe-se as diferenças como se vê na
modernidade que é caracterizada pelo propósito, projeto, hierarquia,
centralização e seleção. Já a pós-modernismo destaca-se a brincadeira, acaso,
anarquia, dispersão e combinação. Mesmo não sendo algo bem definido, a
pós-modernidade surge por ocasião do colapso sofrido pela modernidade, o autor
diz claramente sobre a morte da modernidade. Ao definir a pós-modernidade,
percebe-se que é um tempo de “sensibilidade cultural sem absolutos, certezas ou
fundamentos, que se deleita no pluralismo e divergência”. Um tempo, chamado de
pós-modernimo que tem grande aversão às questões sobre a verdade, pois o conceito
de verdade não passa de ilusão.
Evangelicalismo e
pluralismo religioso.
“O
evangelicalismo afirma que o evangelho cristão é singular, e não pode ser
confundido ou identificado em nenhuma outra religião ou filosofia de vida”. Já
o pluralismo religioso, é algo bastante antigo e não recente como alguns
defendem, pois já nos dias do apóstolo Paulo, já estava presente o pluralismo
religioso.
Embora
exista a ênfase distinta colocada no diálogo dentro da realidade pluralista, há
o grande diferencial cristão dentro do pluralismo que é efetivamente Jesus e
isto é disseminado para outros pontos especialmente o modo de salvação.
Enquanto as religiões do mundo apresentam modos diferentes de salvação, para os
cristãos, a salvação é da vontade de Deus e fundamentada na vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo que para os cristãos, é a revelação de Deus. Por
isso, o pluralismo religioso acredita que se os cristãos olharem para Jesus
diferente, será possível uma aproximação das religiões do mundo.
O que não se
pode negar é que o cristianismo vive no pluralismo religioso, mas isto não é
fator decisivo para qualquer mudança de pensamento evangelicalista.
Conclusão
O
evangelicalismo é importante para o futuro cristão, pois está engajado e
comprometido com o evangelho e afirma que em nível acadêmico, a voz evangélica
precisa ser ouvida e que os evangélicos não precisam se subestimar-se a ponto
de acharem-se “vulneráveis na defensiva, ou pedindo desculpas sobre as crenças
que os distinguem dos seguidores de outras doutrinas religiosas.” “A tarefa de
formatar e renovar a vida da mente cristã é o que aguarda agora”.
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