“O mero
tradicionalismo é uma coisa que mata”, assim está registrado logo no início do
texto de Parker. A obra busca ainda no início, apresentar uma compreensão do
tema proposto que é “o conforto do conservadorismo”. Iniciando pela expressão
conforto o autor vai dizer que existe o significado das Escrituras com sentido
de fortalecer ou mesmo revigorar as forças. Há ainda o sentido de fazer as
pessoas se sentirem melhores. Este segundo é chamado de conforto almofada, mas
este pode em longo prazo e até mesmo em curto prazo, em vez de fortalecer,
irritar.
Assim, o
autor diz que conservadorismo também tem dois significados: criativo que é
revolucionário e inteligente, já o segundo é turrão, obstinado, cego e está
preso ao passado. Se não conhecer a base do conservadorismo, a compreensão será
errada e concluirá como se fosse um movimento separatista e alienado.
Para o
conservadorismo criativo, a utilização da tradição, não a tem como recurso
final e portanto, como autoridade absoluta, mas é um recurso importante que
auxilia à compreensão das Escrituras.
Um pouco
adiante, o autor trabalha a questão da imposição da tradição. Ele faz uma dura
crítica a este tipo de tradicionalismo o chama de “tradicionalismo tirano”.
Discutindo a
natureza da tradição cristã, o autor volta a lembrar que o tradicionalismo tem
o significado de conservadorismo e ainda lembra que existe a tradição cega e cegadora,
mas existe a tradição sábia e esclarecedora.
É pertinente
lembrar que “a tradição caracteriza as comunidades”: ao dizer isto, autor
lembra que não tem como haver uma comunidade sem suas tradições, pois ninguém
pode dizer que está livre de tradição. Isto não pode ser negado, pois a
tradição da igreja é passada através de pronunciamentos eclesiásticos oficiais,
cânticos, catequese, pregação, ensino, etc. Assim, o problema não são as
tradições e nem se quer é problema ter ou não tradição, o grande problema é se
as nossas tradições estiverem em desacordo com a Bíblia, pois as Escrituras são
o padrão absoluto.
As tradições
existentes hoje iniciaram com atos contemporâneos de “exegese, exposição e
aplicação das verdades bíblicas”. Diante disto, deve-se considerar que as
tradições podem ser parcialmente certas e parcialmente erradas, pois desde o
início da igreja cristã, o pecado já estava presente. Mas a Igreja Católica e a
Ortodoxa dizem que certas partes da tradição são infalíveis, já o
protestantismo nega infalibilidade da tradição e afirma infalível apenas as
Escrituras. Assim, a última palavra é das Escrituras.
Os cristãos
tanto podem se beneficiar como também podem ser vítimas da tradição.
Beneficiados ao ver a atuação de Deus que é fiel nas gerações bem como as
verdades que foram por eles recebidas. Mas é vítima, pois corre o risco de
assimilar tudo como algo bom, mesmo não sendo e nem estado em conformidade com
a Bíblia. Reter tudo, pelo simples fato de ter se tornado tradicional. O que se
deve fazer é questionar a própria tradição para reter de fato o que e certo.
As tradições
seculares se opõem as tradições cristãs. Justamente por esta razão, é que a
igreja precisa sempre se reformar para que a igreja cristã possa manter firme o
ensino da Palavra de Deus. É viver constantemente em uma batalha de tradição em
prol do que é essencial e correto.
Existe uma
vantagem na tradição cristã e os evangélicos deixam de desfrutar desta
vantagem. O autor apresenta então quatro vantagens da tradição cristã: 1 –
Raízes - ao conhecer a tradição cristã, pois pode-se conhecer as raízes e isto
é de suma importância. Conhecer as raízes é apreciar a família da fé que nós
fazemos parte. 2 – Realismo - ao conhecer a tradição, pode-se conhecer a
realidade do passado e isto ajuda-nos hoje. 3 – Recursos - os recursos são
ampliados, pois ganham mais sabedoria vendo do passado. O fato é que cada
época, o foco de análise bíblica é diferente, com isto, pode-se aprofundar em
aspectos pouco refletidos hoje. 4 – Lembretes - quando se conhece a tradição,
recebe-se lembretes históricos importantes. O que foi vivido no passado, pode
nortear a vida hoje para não agir erradamente como foi em alguns casos no
passado.
O autor
agora se dedica em falar do conservadorismo tirano e o mesmo dá o nome deste
bloco de “o abuso da tradição cristã”. Temos aqui, conforme diz o autor, um
diagnóstico do que parece estar errado. O desejo do autor é que cada um faça o
julgamento, sendo assim, ele não está preocupado em apontar o errado, mas o
erro. A obra mostra alguns verdadeiros absurdos que a tirania da tradição pode
gerar, como no caso de nomear somente uma tradução como texto bíblico chegando
ao ponto de acreditar que se o vocábulo for diferente, não é texto bíblico. O
final disto é que esta tradição é uma verdadeira mistura completamente fora de
lógica e acaba gerando homens com grandes poderem em suas mãos. Infelizmente,
estes estão buscando a segurança nas estruturas imutáveis da igreja e não no
relacionamento imutável com Deus através de Cristo.
Caminhando
para o final do texto, Parker trabalha o lado criativo do conservadorismo e a
tradição cristã. Ele diz que é sair do diagnóstico para a cura e se tem por
aliviado neste ponto. O conservadorismo criativo não utiliza da tradição como
autoridade final ou absoluta, mas como recurso importante do Deus providente
para nós. Por isso, as igrejas evangélicas precisam entender isto e usar este
conservadorismo criativo. Para buscar este conservadorismo criativo é preciso:
ter honestidade na auto-crítica, ou seja, fazer um exame crítico na própria
vida. Requer humildade no juízo
particular, lembrar que os reformadores ensinaram o julgamento particular,
mostrando que ninguém pode tomar sua fé de segunda mão, mas estar submisso às
Escrituras a fim de verificar se as coisas são como ensinadas. E ainda a
integridade na ação moral. A Bíblia é o padrão para formar a integridade moral.
PARKER, J.I. O Conforto do Conservadorismo. In
Religião de Poder. Vários autores. São Paulo: Cultura Cristã. 288 pg (p.
231-243)
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